COMPREENDENDO O INCOMPREENSÍVEL

Se tem um assunto que me intriga, é o fato de tantos e tantos trabalhadores, trabalhadoras, se posicionarem como de direita. A mim é muito claro, claríssimo, que a direita representa o capital, o capitalista, o empregador, enquanto a esquerda representa os trabalhadores, isso já de idos tempos, milhares de anos e a história universal conta isso muito explicitamente.

Já imaginei, já ponderei sobre inúmeras explicações para essa realidade, sempre valendo a máxima, da desinformação político ideológica. As heranças dos tempos dos coronéis também têm estado em minhas reflexões sobre, haja visto a subserviência a que os pobres, trabalhadores, tinham que se sujeitar.

Outras tantas explicações tenho dado a mim mesmo sobre esse fato absolutamente incompreensível, pelo menos em se tratando de pessoas trabalhadores, que vivem da renda do seu trabalho e que sejam minimamente esclarecidas.

Até que minha memória rebuscou um fato, uma experiência pela qual passei alguns anos atrás, quando estava na casa de um casal de amigos, que promoviam um encontro de confraternização, com um grupo de amigos, a maioria ligada ao trabalho do casal, professores de um Instituto Federal.

E entre conversas tantas, estava eu num pequeno grupo, falando sobre questões do estado, sobre poder legislativo, quando uma senhora, professora Universitária Federal, inclusive, coordenadora de um grupo de trabalho, expos que não entendia e não aceitava a necessidade de duas casas legislativas. Que não aceitava a necessidade do Senado, já que já existia a câmara dos deputados e que o Senado só servia para aumentar ainda mais as despesas do estado e desnecessariamente.

Então expus meu ponto de vista, defendendo a existência do Senado, já que a câmara dos deputados, é composto por deputados representantes de eleitores do seu estado e em número proporcional a população votante daquele estado. Já o Senado, tem um número de senadores fixo e igual para todos os estados, independente da sua população, seus eleitores, ou qualquer outro fato.

Dessa forma, no Senado, todos os estados tem peso absolutamente igual nas votações de projetos, sem risco de privilegiar esse ou aquele estado, pelo seu tamanho, potencial econômico ou populacional. Enfim, expliquei porque entendia o Senado uma instituição absolutamente imprescindível para um país democrático e republicano.

Foi quando dita senhora, após algumas perguntas e meus esclarecimentos sobre a organização funcional do poder legislativo federal, ela manifestou concordância comigo, humildemente admitindo que não sabia exatamente de como era composto o Senado. Nem sabia que são três senadores por estado, que esses senadores tem mandato de 8 anos e não de 4, como no caso do Deputados Federais.

O assunto, o absurdo de ter uma pessoa de alto nível intelectual, de vasta gama de informação e de significativa influência no meio acadêmico, tinha caído no esquecimento, meio de passado de passagem nas minhas reflexões.

Há poucos dias é que, novamente, pensando, ponderando sobre o tema político-ideológico-partidário é que lembrei do fato e então achei mais uma explicação para essa névoa que paira sobre o meu entendimento, a respeito de tantos e tantos pobres trabalhadores se apresentarem como de direita.

Imaginem, se uma senhora com tal nível sócio-educacional-econômico desconhece a organização do próprio estado e seus poderes, o que podemos então encontrar em outras camadas da população?

Isso só reforça a minha convicção de que a ignorância explica um pedaço daquilo que se apresenta como minha maior e mais profunda incompreensão político-social.