E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

QUE A LUA ME PERDOE

 

 

Escrevo esses bem traçados parágrafos, a todos que se interessam pela simplicidade do viver, pela coerência necessária para não se perder em infindas procrastinações, sem perder o andar da carruagem que nos conduz pelos caminhos do bem viver, atendo-se a poesia presente em quase tudo que o rodeia e o faz vivo.

 

Dizer que estou aqui, confortavelmente sentado na varanda da minha casa, suportada por robustos paus de madeira bruta, coberto com folhas transparentes, iluminada muito discretamente, para não ofuscar a noite que me rodeia, não impedir que a lua adentro livremente quando se apresenta, nem que o sol deixe de iluminar o chão que gosto de pisar.

 

Ao meu redor uma escuridão ainda parda, apreciando os morros e pomposas árvores, das quais consigo enxergar levemente, apenas as silhuetas. Uma visão que certamente amedrontaria os meninos e as meninas. Também as não tão meninas. Ainda mais com essa algazarra leve, farta, com a harmonia do "canto" dos grilos, cigarras, sapos e até de corujas, ao longe.

 

Se apurar bem os ouvidos e permitir que a imaginação se intrometa no tudo que ouço, diria que tem até rinchar de mula sem cabeça, roncar de lobisomem e muito mais. Se miro a escuridão que se faz, deixo o whisky que degustei até há pouco, circular mais soberbo nas veias, sentirei o coração acelerar, pois, avistarei fantasmas sobrevoando o redor. É... tá escura a noite que avança.

 

Minha intenção, quando aqui me acolhi na boca da noite, era apreciar a transformação, a metamorfose do dia se despedindo, a noite chegando mansa e imperativa e aqui ficar até a lua deixar seu esconderijo, detrás do morro mais alto, à leste.

 

Acho que não vai dar. Ela, preguiçosa, deve dar o ar da sua luz e magia, somente lá pelas onze horas e agora passa pouco das oito. Ainda mais que olhando o copo a minha frente, só vejo pequenos pedaços de gelo no fundo. O whisky já "evaporou".  Acho que respirei do seu vapor e me sinto meio que assim impelido ao sossego do sofá.

 

Hoje não vou esperar a minha parceira chegar. Hoje não divido com a divina minhas memórias, meus sonhos, nem meus segredos que não conto a mais ninguém, nem mesmo nas entrelinhas dos meus poemas mais retrógrados. Vou me recolher, pois, os sapos estão muito agressivos com essa algazarra toda. E vai que o fantasma da moça noiva que se suicidou numa localidade aqui perto resolva aparecer e falar dos seus motivos no meu ouvido, querendo que eu escreva um poema sobre. Soube, via fofoqueiros, que ela estava noiva por imposição familiar, mas apaixonada perdidamente (comprovado), por um príncipe, quase imperador do seu coração.

 

Boa noite, noite. Boa noite bicharada.

 

Amanhã eu volto e fico com vocês até a lua vir fazer companhia. Hoje só a assisto lá de dentro, esperando que ela perdoe minha impaciência e continue benzendo os poemas que eventualmente componho e que estão gradativamente mais escassos.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 06/02/2025
Alterado em 10/02/2025


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