CISMAS
Estou disperso, só pensamentos vagos, Dou asas as minhas vontades mais tolas, E me deito no divã da sala das minhas cismas. Assumo a escrivaninha do terapeuta, sisudo, Sou o paciente, paciente, acanhado, aflito, sofrido, Meço as palavras à cada letra, escuto cada fonema, Represento toda sinceridade, disfarço total atenção. Chega! Não quero mais contar meus medos, Não quero mais escutar minhas neuras indefinidas, Preciso sim é confessar meus pecados inconfessáveis, Ir direto ao ponto, largar a carga grudada nas costas. Quero ser o Padre, representando a onipotência Quero ser réu, desgraçado, pecador, arrependido, Arrancar as causas pelas raízes mais fundas, Imaginar-me leve, sem culpas nem remorsos, Vangloriar-me dos poderes que assumi e cumpri. Quero ser o menino voltando para casa, E o pai condescendente esperando na porta, Arrependido das molecagens desobedientes, E oferecer colo ao meu corpo pequeno, frágil, E seguir com a vida, espiando o tempo crescer. Melhor apagar essas linhas vagas dos meus pensamentos, Queria mesmo e apenas bulir minha própria estima, Afagar meus credos, aceitar meus defeitos e me perdoar, Apagar minhas culpas, fazer sumir minhas neuras, Brincar com minhas cismas enquanto balanço a rede, Na varanda sombreada e fresca que me permito ficar, Só vezes em quando. Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 29/01/2012
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