ESPELHO
Olho fixamente o que o espelho me mostra, Os cabelos já embranquecidos pelos tantos dias, Olhos lerdos, ou mais atentos, aos instantes, E a pele enrugada pelas memórias das gavetas. Reconheço-me sim no reflexo e me apraz o que vejo, O semblante é de quem muito viveu e teve e se deu, A juventude já não brilha, o viço já não encanta, A vaidade já não irradia, a pressa já não apressa, O riso ainda é o mesmo que eu via no velho espelho. É sempre assim, sempre essa viagem, O espelho se encanta e assisto encantado, As imagens que minhas lembranças projetam, Rio e me acalento no desenrolar do enredo, Entristeço e me vanglorio nas memórias espelhadas, E sorrio satisfeito, por não assistir arrependimento. Quase sempre é assim, no meu espelho encantado, Um projetor de vida, da minha vida, que assisto só, E só, rememoro a vida, a minha vida, que não foi só, Solidão somente nas frestas de lapsos de momentos, Construídas pela necessidade de medir os ventos, Refazer rumos, ajustar bússolas e continuar navegando, Pela vida afora, pelos dias afora que agora fico a assistir. E sem perder o jeito, dou um jeito no cabelo, Sorrio para meu riso satisfeito pelo que vejo, E saio para continuar o enredo que assistirei outro dia. Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 18/11/2011
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