ALÉM DA COLINA
Sempre que deslumbro uma noite límpida, De firmamento pintado de estrelas cintilantes, E a lua formosa prateando o mundo e as fantasias, Ponho-me a sonhar os mesmos sonhos de menino. Vejo-me sentado num barranco, Da rua de barro que ia cortando o vale, Defronte da modesta casa rodeada de goiabeiras, Em meio às pastagens rústicas onde dormiam as vacas, E eu fascinado pelo céu em côncavo e a lua soberana. Sentado assim no barranco da rua, Olhava a casa, onde vazava a luz das candeias, Entre as frestas das tábuas que a cercava, E os vãos da palha que a cobria. E me deixava envolver pela noite serena, Corria os olhos pelo mundo que a lua banhava, Até que parava o olhar e fixava a imaginação, Na alta e imponente colina que se fazia a oeste, Donde sempre vinham as trovoadas e as ventanias. Que mistérios existiam por detrás daquela colina, Para onde a lua sempre corria a se esconder, Deixando o mundo às escuras, a mercê das estrelas? Que monstros habitariam do outro lado da colina, Que sopravam vendavais que vergavam o bambuzal, Que revolviam as nuvens e as faziam bradar ira, Que invadiam meu coração em desespero de medo, Nas quentes tardes e negras noites de verão? E assim o menino cresceu e virei poeta, Envolto pela poesia das noites de lua e estrelas, Da visão do vale que o sol aquecia e a noite cobria, E da colina gigante que engolia o sol todo final de tarde, Que chamava e atraia a lua sempre em horas incertas, Atrás de onde habitavam monstros que sopravam as trovoadas, Para roubar o calor do verão e judiar do bambuzal. Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 09/11/2011
|