Tanto tempo se passou,
Tanta vida correu dentre os dedos,
E eu esperando te encontrar para viver.

Procurei por tantos cantos, tantas esquinas,
Em cada curva que a vida fazia em mim,
Eu deslumbrava o encontro que não ocorria
E teimava e torcia e esperava e sonhava e sofria.

Vaguei pelo infinito, em sonhos alados,
Dentre nuvens de algodão, só para te encontrar.
Caminhei sob céu salpicado de estrelas, escutei o vento,
Conversei com os anjos e chorei ouvindo a melancolia dos sabiás.

Escorreguei em devaneios mil de tanto sonhar acordado,
Senti teu cheiro em cada primavera que chegava,
E me embebedei tantas vezes no cálice da sua boca,
E acordava ainda tonto e torto com meus desvarios.

Roguei misericórdia ao tempo,
Que candidamente me cedeu seu pedaço,
E eu corri, corri na sua cauda, quase faltando fôlego,
E sentei para descansar na sombra da árvore desfolhada,
E adormeci e sonhei e nem sei se acordei.

Sei somente que sonhei que a encontrei,
E estou sonhando acordado e nem sei se dormi,
Sei somente que se for sonho,
Que eu durma eternamente.