A PONTE
Lá naquela casinha de madeira bruta e caiada,
Fincada no pé da serra onde nasciam as trovoadas, Onde o vento se enervava e me fazia medos, E as noites escondiam monstros e fantasmas, Na sua frente passa um rio lento e teimoso, Sobre aquele rio tinha uma ponte estreita e longa, Que balançava sempre, como se brincasse com ele, Alheia a sua pujança vagarosa e constante vale abaixo, E por ali eu ia e vinha, e às vezes parava e pensava, E deixava o sonho tomar forma e me levar com as águas, Quantas folhas joguei naquele rio que corria sempre, E na preguiça das tardinhas que já anunciavam a noite, Eu perdia as horas vagando no passar das águas, Sobre a ponte abusada que cortava o rio e não o temia, E seguia em quimeras mil, com águas pela vida afora, Olhava a serra, olhava o rio, olhava a ponte, Olhava as águas que corriam como corria o tempo, E via a casa, a chaminé, a fumaça subindo ao céu, Que se misturava às nuvens, que levavam meus sonhos, Dançando ao cântico vindo das aves do terreiro, Quanta água vi passar daquela ponte soberba, E quantos planos coloridos foram-se com ela, Ficaram contudo as lembranças em aquarela, Formada das cores, aromas sonhos e lembranças, Daquela ponte que me levava de um lado a outro – da vida
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 11/12/2009
Alterado em 29/09/2024 |