E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

Tenho a velha mania de ficar conversando comigo sobre alguns temas que circulam por aí. Ultimamente tenho refletido nessas conversas, sobre toda a culpa que se deposita no colo do Governo.

De que Governo se está falando? Do Federal, do Estadual ou do Municipal? Normalmente as pedras são atiradas sobre o Federal, por estar no degrau mais alto. Mas os estilhaços respingam por todo lugar.

Se falarmos em saúde, no que consiste o Governo? No Presidente, no Governador ou em todo o contingente de pessoas que trabalham e vivem no meio? As mazelas maiores que se verificam, são de efetiva falta de recurso ou oriendo da débil e vil utilização dos recursos disponíveis?

Quem já se ateve a verificar qual o percentual do orçamento do estado destinado à saúde até os anos 80 e o quanto é hoje? Verifiquem e verão que cresceu muito, muito mesmo.

O que ocorre é que os desvios e desperdícios também cresceram e muito mais. Não é o Presidente, nem o Governador, nem o Prefeito que desvia tudo (deve desviar seu quinhão sim). Nem são eles que administram os hospitais, os postos de saúde, etc. É todo um contingente de pessoas, de “profissionais” que o fazem. Muitos deles são seus irmãos, primos, cunhados, ou simples amigos, ou não? Quem não tem alguém do seu relacionamento trabalhando no serviço de saúde? Ahh sim, esse seu conhecido é profissional sério, correto, competente, não é verdade? Sei, os meus também o são (?).

E se falarmos na educação, podemos percorrer o mesmo caminho. O mesmíssimo caminho. Costumo dizer que o salário dos professores, principalmente nos níveis municipais e estaduais, é uma safadeza.

Convenhamos, entretanto, que tem muitos e muitos professores que não merecem ganhar nem mesmo esse mísero salário. Tem diretores de escolas que deveriam ser presos, pela inércia e irresponsabilidade com que dirigem suas escolas. Existem secretários de educação que deveriam ser julgados em praça pública, pelos desmandos que cometem em prol dos seus interesses. Prefeitos nem é bom lembrar.

Minha reflexão não é feita em defesa do Governo atual, nem do anterior, nem do futuro, que sei estará sujeito as mesmas críticas, independente de quem seja, de que partido seja. Reflito sobre o ganho que tivemos nas últimas três décadas, desde a promulgação da última constituição, para com a saúde, a educação e outros aspectos sociais e continuamos choramingando contra esse ou aquele Governo, sem que individualmente se assuma responsabilidades nem culpas.

Alguém que tenha uma pitada de bom senso e não queira somente agradar o seu redor com críticas de todo jeito ( criticar os governos é sempre um prato cheio e sem risco de desagradar), deveria pensar que nossa maior mazela e o baixo salário. Sim, se a população tivesse melhor renda, se a renda gerada no país fosse melhor distribuída através da remuneração pelo trabalho e não apenas pelos impostos, não estaríamos tão dependentes dos serviços públicos, ou não é verdade?

É comum se criticar os altos impostos, certo? Eu também acho que são gulosos demais. Devemos, contudo, entender e aceitar que é a única forma de equilibrar a sociedade, tirando – na marra – de quem tem para devolver a quem não tem, através de serviços que não poderiam ser pagos pela maioria esmagadora da população, porque sua remuneração permite, são os impostos.

Quem, de sã consciência, não gostaria de ter um plano privado de saúde, ao invés de depender dos serviços públicos? E não tem por que? Porque seu salário, sua renda, não lhe permite esse luxo. O mesmo ocorre com a educação. Com a segurança, com a moradia, etc. etc.

Bem por isso, as minhas conversas comigo, concluem que devemos gastar nossas  energias, muito mais para explicitar, para combater  a miserável remuneração do trabalho, pois, esse é o efetivo buraco negro da sociedade como um todo. É a miserabilidade dos salários que agiganta o estado.

Sim, criticamos o tamanho gigantesco do governo, que leva à ineficácia de toda ordem (é a lei da administração e da própria física – quanto maior a massa, maior a inércia), sem nos aperceber que o Estado só existe para manter um mínimo de equilíbrio sócio econômico, que deveria ser feito pelo mercado, através da remuneração do trabalho.

Se o estado, contudo, afrouxar a bravura do leão, os empregadores aniquilarão de vez os empregados. O capital extinguirá o trabalho, através da mesquinhez dos salários, que não permitem o mínimo de conforto e bem estar, oxalá a sobrevivência com um mínimo de dignidade, necessidades essas compensados pelos serviços públicos, ruins, mas existentes.

Fico pensando, como uma pessoa vive com salário, digamos, de R$ 1.500,00? Como? Se não houvessem os serviços públicos a disposição, morreria a mingua, com certeza. E de onde vem o dinheiro para custear esses serviços? Dos impostos, certo? Sabe-se que o dinheiro que chega fácil (impostos), também se vai fácil, não é? Sim, grande parte esvai-se facilmente através da incompetência, dos desvios, da corrupção, etc. O dinheiro fácil dos impostos, é como carniça atraindo os urubus, nesse caso homens que se travestem de políticos.

Se o capital remunerasse melhor o trabalho, o Estado não precisaria de tantos impostos e os capitalistas não precisaria pagaria tantos impostos. Enfim, somente trocariam o imposto pelo salário, com melhores resultados para si e para o país. O estado poderia ser menor e focar sua força nas questões estruturais, como segurança e justiça.

Quem, entretando, seria altruísta o suficiente para dar o primeiro passo? O empresáriado não paga melhor porque os impostos são muito altos e o governo não baixa os impostos porque tem que arcar com os custos dos serviços que a maioria da população não tem como pagar com os baixos salários.

Por isso vivo a dizer que o capitalismo em muitos aspectos é burro. Condena o socialismo, mas deixa sob responsabilidade do estado o sustento e a manutenção das suas galinhas dos ovos de ouro (o trabalhador).

É... o buraco é bem mais embaixo que as levianas criticas de botequins.
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 07/05/2014
Alterado em 06/07/2020


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