E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

TERCEIRIZAÇÃO



Lembro que a estratégia da terceirização, tomou um grande impulso e acabou virando meio que moda, no final da década de 80 para década de 90. Veio do exemplo das montadoras e passando pelos consultores, pelos marketeiros, transformou-se numa mania nacional. Evidente que a terceirização sempre existiu nas administrações de empresas, mas daí a virar uma mania, uma pseudo grande sacada de gestão é uma coisa que para mim, soa como algo um tanto ridículo.

E exatamente na década de 90, que os gulosos corruptos envolvidos com a administração pública, sacaram não a eficácia da estratégia, mas sim uma grandiosa oportunidade de "levar algum".

Já na época, início dos anos 90, eu dizia que a mania da terceirização, era a oficialização da propina, em todos os segmentos, mas primordialmente na administração pública. Até então, as falcatruas, a corrupção se resumia as grandes obras, principalmente da construção civil, mas a partir dessa mania, passou escancarar os dentes afiados e as gargantas profundas e gulosas.


Lembro bem que na época tinha um programa humorístico do Jô Soares, chamado PROGRAMA DO GORDO onde fez muito sucesso um personagem que terceirizava serviços em repartições públicas. Se alguém lembra, com certeza entende o que quero dizer a respeito dessa mania de terceirização e porque digo que a terceirização dos serviços públicos é o maior mecanismo fomentador da indústria da corrupção.


Assim a grande estratégia da terceirização de fartas e suculentas tetas tomou conta principalmente das prefeituras municipais. Tudo é terceirizado. Para tudo existe uma empresa contratada para prestar serviço e não raro criadas especificamente para prestar determinado serviço para determinada prefeitura e menos raro ainda que seja administrada, via laranjas, por funcionários públicos, quando não pelos vereadores, prefeitos e demais “autoridades” públicas e/ou seus familiares.

Diria que a terceirização é eficaz quando a atividade é específica - eventual - e exige extremo conhecimento técnico, cuja composição da estrutura necessária demanda custo não condizente ao tempo de sua utilização. Mas a coleta de lixo, as limpeza das ruas, a manutenção corriqueira e habitual dentre outras atividades da administração pública, tem algum caráter eventual?

Se qualquer empresa que presta tais serviços, custeia a atividade e ainda tem lucro, porque a administração pública não pode fazer isso, economizando esse lucro entregue de mão beijada?

Não podemos apontar essa ou aquela prefeitura, esse ou aquele estado pela prática suspeita da mania da terceirização, até porque essa é uma prática nacional, uma moda que virou mania e que é imprescindível para energizar as testas em que os corruptos mamam fartamente.

Se olharmos um pouquinho atrás no tempo, lembraremos que as prefeituras sobreviviam com os impostos arrecadados, oferecendo os serviços essenciais aos cidadãos. No decorrer dos anos, muitos dos serviços passaram a ser cobrados dos munícipes, como a coleta de lixo, a iluminação pública e outros tantos.

Todas as empresas privadas, com a introdução da micro informática e toda praticidade que trouxe para a administração de toda ordem, conseguiram reduzir enormemente seu quadro de pessoal, fazendo com que o custo de gestão tivesse redução significativa. As prefeituras não, as repartições públicas não. Essas tiveram toda economia na gestão administrativa, favorecida pela informatização, desviada para o superfaturamento oriundo da terceirização dos mais diversos serviços.

Aquilo que eu previa no final dos anos 80, ainda um jovem contestador, somente foi se confirmando no decorrer dos anos e fez com que a corrupção pública fosse pulverizada, atingindo todos os patamares, da coleta do lixo, ao cafezinho que circula nos gabinetes.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 17/03/2013


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