E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

AVESSO AO CARNAVAL



Não sou alguém adequado para escrever ou me manifestar poeticamente sobre o CARNAVAL.

Não gosto da folia carnavalesca. Nunca fui num salão, nunca participei de um desfile. É o tipo de diversão que não me envolve, não me comove, não me cativa.

E não o relego por questões religiosas ou coisa do gênero. Não o relego pelas origens profanas e tudo mais que envolve suas origens. Relego porque é uma festa onde as pessoas aproveitam para soltar e viver toda libertinagem. Fazem o que gostariam de fazer o ano inteiro, mas que não tem coragem para tal.

No carnaval, justificados pela festa, quando não pelas máscaras, usam, abusam e se expõem a tudo. Meus conceitos estão fincados no fato de que sou sempre o mesmo, busco o prazer naquilo eu posso fazer sem máscaras, sem me aproveitar da multidão, sempre que me apraz e não somente uma vez por ano.

Acompanho o carnaval, considerando o lado cultural, até o lado antropológico de um povo, nessa tão intensa manifestação popular. Acompanho o carnaval e até me delícia nas belezas que se vê, principalmente pela TV, sem, contudo, entrar no mérito da luxúria vã e efêmera que ele carrega.

Reconheço e aplaudo tanta gente que tem no carnaval um momento que concentra todo gozo das tantas energias acumuladas o ano inteiro. Até acho admirável o empenho de tantos, para preservação e ampliação dessa que é umas das mais fortes manifestações culturais de massa e que faz nosso povo ser reconhecido no mundo, resplandecendo nossa contagiante criatividade e alegria.

Superamos, em grandiosidade, todas as manifestações carnavalescas que ocorrem no mundo, cuja paixão, para nós brasileiros, só se compara ao Futebol.

Então, prefiro assistir o carnaval de camarote, valorizando sim a questão cultural, histórica, mas intimamente muito alheio a folia símbolo da liberdade para o pecado, para os prazeres da carne e da preparação para o jejum de novos pecados, até que chegue a páscoa e a ressurreição, que libertará a todos dos pecados dos excessos.

Não preciso que o sangue de Cristo, representado pelo vinho da Santa Ceia, apague todos os pseudos malefícios das cachaças que bebo, pois as bebo o ano inteiro, sem a hipocrisia do jejum.

Assisto de camarote, a indústria do entretenimento tomando corpo, incorporando e engolindo a história, as origens e os valores culturais, se não brasileiros, mas da humanidade cristã.

Cometo meus pecados da carne, da luxúria, o ano inteiro, na medida em que minhas necessidades e minhas vontades de prazer assim exigem e permitem, certo de que não careço que sejam concentradas em três dias e sem acreditar que o jejum da quaresma lavará, sob a benção da penitência, todos os pecados que eventualmente cometi e que não reconheço.



Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 09/02/2013


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