E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

UM TEMA

Estou em busca de um tema para compor pomposo poema,
Pensei em quase tudo e nada me despertou a inspiração,
Imaginei falar dos amores passados e ainda lembrados,
E não consegui nem mesmo iniciar uma conversa com as palavras,
Com os versos que vendessem a idéia de saudade doce e colorida.

Pensamentos passearam pelos campos sociais e suas mazelas,
Viajei pelas ruas dos grandes centros urbanos e sua insensibilidade,
Vaguei pelas praças lentas das pequenas cidades interioranas,
Forjei entrar na mente das velhas senhoras benzedeiras provincianas,
E nada! Nada me instigou a mergulhar fundo e emergir com prosas.

Lembrei o amor que hoje me encanta, alimenta e me faz tão bem,
E não tive coragem de expor nossos segredos nem nossa cumplicidade,
Mergulhei nos sonhos que fluem das minhas vontades e desejos contidos,
Brinquei com minhas lembranças do passado menino e me encabulei,
Até me fiz andando pelas ruas chutando latas vazias e cachorros magros.

Pensei em desistir de querer buscar motivos para escrever um poema,
Queria contar em versos alguma coisa que agradasse a qualquer um,
Que instigasse a imaginação alheia criando imagens mentalizadas,
Alçando voos em devaneio e fazendo vagar quem se atrevesse a ler,
Mas não! Não poderia sucumbir à ausência de um tema deslumbrante.

Então lembrei que está chovendo daquele jeito vagaroso e vadio,
Que é final de tarde e o ânimo já vai se aninhando preguiçoso e sonolento,
Esperando a noite chegar para se aquietar de vez entre paredes e lençóis,
Motivo talvez dessa sonolência de inspiração e motivos para versar razões,
E já que é assim que assim seja e que assim a tarde vá morrendo lentamente.

E enquanto a tarde vai assim perdendo forças e se deixando levar pelo sono,
Que vem trazendo consigo todos os sons lânguidos saídos da boca da noite,
Vou então me deixar levar por essa preguiça me espreguiçando na rede vadia,
Presa na varanda coberta pelas velhas telhas donde escorre a chuva teimosa,
Que vai lavando e levando toda nevoa que entorpece minha inspiração em falta,
E certamente amanhã quando o sol cintilar nas folhas das laranjeiras ao redor,
Resplandeça nova e brilhantemente o tema que procuro para meu poema.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 26/07/2011
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