E A C O E L H O

UM PRETENSO POETA

Textos

EQUILIBRIO (JUSTIÇA) SOCIAL


Dentre todos os seres vivos que habitam esse nosso mundo encantado, o homem – o ser humano - é o único que pensa, que é privilegiado com todos os sentimentos e cuja inteligência é notória, nítida, evolutiva e clara. Todos os demais seres, simplesmente continuam vivendo, usufruindo do contexto natural dos seus instintos, que se perpetuam nos códigos genéticos que se vão transmitindo de pais para filhos. Vivem, pois, a mercê do seu habitat e das ações pensantes do homem, do ser humano.

Dito isto, quero mostrar de forma muito cristalina, que o ser humano tomou caminhos dispersos, subdividindo-se em grupos, mais ou menos assim: os pensantes, os executores e os aproveitadores da Inteligência da raça humana. Mais ou menos assim: os abnegados, os esforçados e os exploradores. Mesmo sendo todos humanos e semelhantes usufruem diferentemente dos resultados da inteligência da raça.

Creio que a Inteligência humana sempre deveria estar a serviço do ser humano como um todo. Se pensarmos na raça humana, é lógico entendermos que tudo que a inteligência humana crie, deveria ser usufruída por todos os seres humanos.

Todo o desenvolvimento tecnológico, oriundo da capacidade pensante advinda da sua inteligência, deveria, por questão absoluta e indiscutivelmente lógica, vir de encontro ao sentido natural e instintivo da lei do menor esforço, igualmente em benefício de toda a raça. Desde que o homem inventou a roda, foi exatamente para que pudesse remover objetos quaisquer, rodando e não puxando, facilitando e reduzindo os esforços. E todos os seres humanos foram beneficiados por isso. Foi um homem que a inventou e lógico e justo que todos os homens se beneficiassem dela e assim o foi e assim tem sido. Assim o é.

Não sou um comunista. Entendo que Marx teve apenas um surto de inteligência desvirtuada, quando idealizou o comunismo, talvez partindo dessa premissa com que iniciei esse tema, mas esqueceu que todos os homens são semelhantes, mas não são iguais, segundo o veredicto Divino, ditado por Deus e sempre muito presente nos entremeios da convivência humana. Deus já disse que apesar a similaridade das suas criaturas, todas criadas a partir da mesma matéria, haveriam os inocentes e os pecadores; haveriam os aproveitados e os aproveitadores; haveriam os disciplinados, os seus seguidores, e os rebeldes, aqueles que se rebelariam perante o criador.

Aprendi com um amigo, que nem tudo que é justo também é certo. Diz ele que enfiar o dedo indicador na ânus de um amigo, é absolutamente justo, mas não é certo. Amigo é amigo. Dedo é dedo e ânus é ânus. Assim como a inteligência humana, ser usufruída apenas por alguns poucos, até pode ser certo, mas não é justo. Até pode que haja quem diga que é uma questão de inteligência maior ou menor, mas não é correto nem justo com a raça humana, diante da natureza, que distingue o homem como um todo e não individualmente. O dedo, o ânus, o justo e o certo, são expressões criadas pelo homem, então é comum ou pelo menos deveria ser absolutamente igual, no mínimo semelhante.

Estou dizendo tudo isso, com o objetivo único de levar as pessoas a refletirem sobre as questões sociais, sobre o pobre e o rico, sobre o mais inteligente e o menos inteligente; sobre o mais esforçado e o menos esforçado. Sobre o negro e o branco; sobre o sul-americano, o norte-americana; sobre o europeu, sobre o asiático, sobre os oriente-medianos, enfim, sobre toda a raça humana. Que reflitam sobre o homem como um todo, sobre a raça e não os indivíduos. Que pensem grande, de forma ampla, humana, planetária e não pensando apenas no seu terreiro, sobre as suas mãos, sobre os seus bolsos, sobre o seu umbigo.

E partindo da premissa de que a inteligência humana, por certo e por lógica global, deveria estar a serviço do ser humano como um todo, vamos reduzir a amplitude da nossa reflexão e vamos pensar no nosso Brasil. Vamos nos colocar pequenos e pensar apenas no nosso Brasil, na raça brasileira, no homem brasileiro, com mais semelhanças ainda. Somos oriundos do mesmo solo, da mesma pátria, da mesma natureza, do mesmo pedacinho desse mundo de Deus. Deveríamos, portanto, ser mais semelhantes. Que não fôssemos mais iguais, mas deveríamos ser mais semelhantes. Então porque essa tamanha disparidade sócio-econômica? Porque tamanha discrepância? Porque tão poucos com tantos e tantos com tão pouco? Somos uma só raça, e dessa raça humana, sul-americana, brasileira, a virtude maior e igual é a capacidade pensante, a inteligência, sempre a serviço da raça em si. Então porque não usufruímos de forma semelhante, das virtudes semelhantes? Porque essa disparidade tão desumana, tão desnaturada, tão despatriada? Claro, Deus já sentenciou que suas criaturas não seriam iguais, mas que seriam semelhantes. Mas nem mesmo insinuou que seria tão diferente.

Não sendo iguais, não seria lógica a distribuição igualitariamente comum e por conseqüência, não seria correto, nem pelas leis Divinas, nem pelas leis humanas, nem pela lei da lógica e creio que nem mesmo Newton concordaria, aprovaria um regime político-social comunista. Mas nem Deus, nem Newton, concordariam com tamanha diferença sócio-político-econômica entre seres tão semelhantes.

Que voltemos ao início do raciocínio, quando falávamos sobre o fato de que a inteligência humana deveria estar a serviço de toda humanidade. Voltemos a falar sobre constatação de que a inteligência humana está, ou deveria estar, a serviço do menor esforço de todos. E vamos trazer esse mesmo raciocínio para a vida humana moderna. Urbana ou rural, mas bem aqui neste nosso Brasil varonil.

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Agora vamos fugir, um pouquinho só, dessa linha e vamos falar sobre o princípio do mercantilismo, ou sobre a lei de mercado, sobre demanda, a máxima lei de mercado, a “lei da oferta e da procura”. Sabe-se que quanto menor a oferta, maior a procura e maior o preço. O contrário também é verdadeiro, dentro dessa lógica mercadológica, ou seja, quanto maior a oferta, menor a procura e menor o preço.

Assim funciona o marketing. Faz publicidade e cria demanda, ou - em outras palavras - cria a necessidade e por conseqüência a procura e com isso valoriza o produto que passa a ser automaticamente mais procurado e seu preço aumenta. Essa é a lei suprema do mercado, de todos os segmentos. Absolutamente todos. Claro que a técnica publicitária, para potencializar essa regra, explora alguns temas centrais, como a vaidade, o orgulho e a sexualidade, sentidos mais aguçados do ser humano e, portanto, quando “tocados”, estimulados, as reações são reflexivas, instintivas e imediatas. Crescentemente imediatas.

Essa lei máxima de mercado, reafirmando, vale para todos os produtos, todos os segmentos. Desde os produtos mais primários, aos da mais alta tecnologia; vale para serviços da mais diversa ordem e vale também para a mão-de-obra, para o trabalho, serviço universal disponível onde exista gente, onde existam seres humanos, onde exista produção, onde exista serviço.

Dentro do processo mercantil, existem três elementos. O produtivo, o varejista e o consumidor. Isso em se tratando de produtos. E temos ainda a indústria do serviço, mais ligado ao entretenimento, ao lazer, ao turismo, que agrega a questão produtiva e a varejista, ficando somente dois elementos. A indústria de serviço, salvo os serviços elementares, já é uma atividade moderna, fomentada há poucas décadas, pelo menos em nosso continente.

E em todo esse processo, existem somente duas facções. A facção dos empregadores e a dos empregados. Uma advinda do capital e a outra do trabalho, formando aí toda a roda viva em que gira esse mundo nosso e de Deus. Aí está formado o grande cabo de guerra da humanidade, donde se gera toda concórdia ou discórdia, toda justiça ou injustiça, todo equilíbrio e todo desequilíbrio. E exatamente em busca da concórdia, da justiça e que foram criados então os regimes políticos, os partidos políticos, sempre divididos nas mesmas duas facões, nas mesmas duas vertentes. Uma que representa e defende o capital e a outra que representa e defende o trabalho, que passaram a ser conhecidas como direita e esquerda. Até hoje não entendi porque se chama de direita a facão que representa o capital e de esquerda a que representa o trabalho. Mas essa é outra história.

E nos tempos modernos, criou-se a terceira figura nesse contexto, que é o governo, que a grosso modo, é a entidade que foi idealizada para administrar o conflito existente entre as duas vertentes, o capital e o trabalho. E o governo, na medida em que as relações humanas e de poder vão evoluindo, vão se alterando entre os regimes administrativos ainda hoje existentes. Dentre eles e mais conhecidos e numa ordem evolutiva, temos o imperialismo, a monarquia, a ditadura (acidentais), o presidencialismo e o parlamentarismo. E cada um adotando, segundo o equilíbrio de forças entre as duas facções - o capitalismo e o trabalhismo - regimes políticos, priorizando um ou outro lado, qual sejam, o comunismo (em extinção), o socialismo ou o capitalismo. Evidente que a cada dia que passa, existe uma tendência para a universalidade do socialismo, mesmo nos regimes monárquicos e imperialistas. Ainda bem.

Isto posto, devemos entender que o governo existe para equilibrar o cabo de guerra entre o capital e o trabalho e que existe uma tendência quase irreversível da adoção do socialismo como regime político e a democracia como modelo de gestão de poder. E dentro disso, queiram ou não os capitalistas, o equilíbrio fica cada dia mais próximo, diminuindo, mesmo que a lentos passos, a achatada supremacia do poder do capitalismo sobre o trabalho, cujas águas, contudo, ainda muito terão que passar por debaixo da ponte da humanidade pensante. E na medida em que o socialismo vai tomando corpo mais atlético, com suas musculaturas mais firmes, creio que o desequilíbrio e a injustiça social irão perdendo sua fome de erva daninha nesse mundo afora, América afora, Brasil afora.

Talvez minhas colocações repassem otimismo demais, esperança demais no desenvolvimento do homem pelo homem, na busca por um equilíbrio no mínimo razoável, com diferenças sócio-econômicas apenas um pouco diferentes, com menos fome e menos fortunas incalculáveis. Mas as mudanças, a evolução é sentida sim. Não podemos ser tão pessimistas quando alguns socialistas radicais querem fazer parecer. O andar é lento, mas firme e constante e aparentemente irreversível.


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Não sou um conhecedor dos meandros econômicos globais, mas sou politizado suficiente para entender que o equilíbrio e a justiça social só podem ser atingida por dois caminhos; os impostos que permitem ao Governo a distribuição de renda e o salário condizente com as riquezas produzidas. O salário é o preço do trabalho e o trabalho um produto como qualquer outro. Se existe trabalho sobrando no mercado, é evidente que o seu preço caí. É a lei do mercado. A lei da oferta e da procura, conforme já exposto. Ao mesmo tempo em que haja uma maior demanda por mão-de-obra, por trabalho, esse produto será mais valorizado e seu preço aumentará, ou seja, teremos maior salário.

Assim, de nada adianta os governos ficarem fazendo promessas de aumentar salário na base do poder de leis e decretos. O trabalho somente terá melhor preço, o salário crescerá, se houver maior demanda, obedecendo assim as leis de mercado e não as leis governamentais.

O grande problema que está na nossa cara, escancarado, à vista de qualquer ser, é que se a inteligência humana é clara, presente, evolutiva e está a serviço da invenção e aperfeiçoamento de técnicas para que se faça cada dia menos esforço para produzir mais, é evidente que jamais teremos um efetivo equilíbrio social, através do preço do trabalho. Jamais alcançaremos o equilíbrio necessário entre oferta e procura.

Salvo algum surto de crescimento pontual, aqui ou acolá, por um período ou outro, a exemplo do que se passa no Brasil neste momento, sempre haverá desenvolvimento de novas técnicas – por conta da inteligência da raça humana – e com isso haverá menos necessidade de mão-de-obra, de trabalho. Com isso, o trabalho sempre estará em excesso e exatamente por isso e segundo as leis da oferta e da procura, o valor do trabalho não aumentará, ou seja, os salários não aumentarão.

Os salários somente aumentarão e, portanto, só teremos um equilíbrio de demanda, se diminuirmos a oferta de trabalho, ou aumentarmos a procura. Aumentar a demanda é um desvario, pois, contraria o princípio da inteligência tão bem exposto anteriormente, já que estamos em permanente evolução tecnológica. Resta então, reduzir a oferta. E como reduzir a oferta?


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Olhando a raça humana como um todo, devemos entender que seria absolutamente justo que todo produto da sua inteligência, deveria ser partilhado por toda raça humana. Se a inteligência da raça humana está a serviço da invenção de mecanismos que permitem menor esforço, em prol do lazer, do bem estar, da qualidade de vida, então é efetivamente justo que na medida em que evoluímos tecnologicamente, que toda a raça humana trabalhe menos.

E isso não vem ocorrendo em todo o mundo e muito menos no Brasil. O desenvolvimento tecnológico – produto da inteligência da raça – nas últimas décadas é espantoso, galopante e que até assustam a tantos, contudo, a redução da carga horária de trabalho, do trabalhador, se mantém praticamente intacta nas últimas décadas.

Porque o fruto da inteligência humana tem que ser usufruído apenas pelo poder econômico, pelo capital, pelo capitalismo? Porque não também pelo trabalho, pelo trabalhador? Este exatamente é o desequilíbrio, a injustiça que se faz no mundo. Os resultados da inteligência humana são canalizados apenas para o capital, que cada dia produz mais com menos trabalho e não paga mais por isso. Pior, reduzindo a demanda de mão-de-obra, de trabalho, desequilibra a demanda, gerando mais oferta que procura e com isso compra esse produto por menor preço, ou seja, o salário cai.

Então, o equilíbrio a que tanto se procura, não tem outro caminho que não seja a redução da carga semanal/mensal de trabalho. Não tem outra solução e, aliás, essa alternativa única está muito clara, mesmo às vistas dos cegos. Só não vê quem não quer e claro que o capital não quer ver. O capitalismo não irá atirar em seu próprio pé.

Esta, pois, a solução. Reduzindo a carga horária de trabalho, haverá necessidade de mais pessoas para produzir a mesma coisa, ou seja, aumentar-se-á a demanda por trabalho. Aumentando a demanda, haverá mais procura, reduzirá a oferta e o seu preço subirá. Claro, cristalino, como água límpida dos riachos de matagal.

E as forças políticas do socialismo, nem teriam que se preocupar com a manutenção do salário no momento da redução da carga horária. Não teria por quê. A lei maior do mercado, a lei da oferta e da procura, encarregar-se-á de fazer os preços do trabalho crescer.E assim se recomporia a lógica do usufruto da inteligência da raça humana em seu próprio benefício, como é justo e coerente.

Na media em que se vá evoluindo tecnologicamente, vai reduzindo a carga horária de trabalho. A lei do menor esforço equilibrada com a lei da oferta e da procura. Capital e trabalho em pé de igualdade. Esta a verdadeira função dos governos, que existem exatamente para isso; para equilibrar as forças, para que o capital não aniquile o trabalho, além, evidente, da redistribuição de renda e assistência a vida, realizada através da coleta dos impostos para custeamento dessas atividades.

E por incrível que pareça, não tenho visto em toda da campanha eleitoral que se desenrola, mesmo com a grande maioria dos partidos se apresentando como socialistas (quase todos tem um S no meio), a redução da carga horária de trabalho constante das suas plataformas e planos de governo. Nem mesmo como vã promessa, tão comum nesses momentos.

E vale perguntar: qual a carga horária semanal de trabalho na França? E na Alemanha? Na Inglaterra?
Não vale responder a da China. Lá ainda se vive o arcaico império e a escravidão amarela.



Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 19/09/2010
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